Descoberta do Zika vírus na saliva representa avanço para medicina

Ilustração: Mariana Cotrim

A epidemia do Zika vírus, em 2016, levantou a necessidade de buscar meios de diagnósticos que fossem mais rápidos e práticos, algo usual em qualquer tipo de doença. A pesquisadora da FOUSP, Talita de Castro, em conjunto com a NYU e o Instituto de Medicina Tropical, dedicou sua tese de doutorado à investigação da eficácia da saliva na identificação do vírus em comparação à urina. “Estávamos interessados em fazer diagnóstico rápido e na minha parte, da odontologia, a gente sempre busca usar saliva como método de diagnóstico”. Um dos motivos, de acordo com Talita, para a identificação por meios alternativos é o fato de que o Zika vírus não fica por um grande período na corrente sanguínea. Após um tempo, foi descoberto que a urina era um método preciso, já que sua permanência nela era maior. 

Na época da grande epidemia, o Instituto de Medicina Tropical colheu amostras de sangue, urina e saliva de pessoas diagnosticadas com a doença em uma região do Tocantins, um dos estados mais afetados em 2016. Talita, então, pegou as amostras de saliva e urina para analisar na Universidade de Nova York utilizando um método diferente do que é usado no Brasil, o Lamp.

Essa técnica de diagnóstico é conhecida por ser mais simples do que o PCR, meio mais utilizado para identificar um vírus. De acordo com Talita, ele detecta o DNA ou RNA dos patógenos utilizando uma variação na temperatura constante até a identificação, processo chamado “thermal cycling”. Por conta dos ciclos, esse método gasta muita energia e, por isso, demanda mais tempo. 

O Lamp, por outro lado, é isotérmico: “você aperta o play, ele vai atingir uma temperatura ideal e vai manter isso por uma hora, no máximo e já vai dar o diagnóstico do mesmo jeito”. Esse método já era um pouco conhecido na NYU e os pesquisadores queriam testá-lo para tal fim. 

Outra vantagem do Lamp é o fato da máquina ser mais pequena, o que permite que ela seja levada a áreas de risco para análise de amostras. Tal técnica ainda não é utilizada no Brasil, mas representaria um grande avanço no diagnóstico rápido de doenças se adotada, principalmente, quando se fala em epidemias.

Após meses de análise das amostras de saliva e urina, a pesquisadora concluiu que o uso da primeira para diagnóstico é uma alternativa que não só pode ser utilizada, como oferece muitas vantagens. Entre elas está o fato de ser mais simples: em épocas de epidemias é difícil mover pessoas preparadas para tirar sangue e a coleta da saliva não demandaria tanta movimentação: “você tem um tubinho, a pessoa cospe, tem a saliva, congela e, se você congelar do jeito certo, já consegue fazer a pesquisa.” 

Além disso, a coleta de saliva é um método muito mais barato, já que não demanda tubos específicos (como o do sangue), métodos particulares de centrifugação e separação, além de evitar o risco contaminação. “A saliva é um processo muito fácil, você dá um tubinho para o paciente, ele vai ficar alguns minutos eliminando a saliva no tubinho, vai pegar esse tubinho e vai congelar.” 

Além dessas vantagens, há também o fato de ser mais simples diagnosticar os pacientes assintomáticos: 80% dos portadores do Zika vírus não apresentam sintomas da doença, o que dificulta a sua identificação. Em caso de epidemia como a de 2016, em uma coleta de grande escala seria muito mais fácil utilizar a saliva para controlar a doença. 

Desse modo, nota-se como é importante o fato de existirem outras formas para alcançar um bom diagnóstico. De acordo com Talita, “pouco havia sido estudado com relação a esse vírus na saliva, os estudos de antes da publicação do nosso eram estudos in vitro”. Um estudo clínico mostra como o vírus se comporta na saliva e pode até ter seu método migrado para a identificação de outras doenças de forma mais rápida. Assim, todo o processo é tanto econômico quanto prático, e pode representar um avanço para o Brasil.

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