Crianças autistas compreendem melhor expressões idiomáticas a partir de um contexto

Estimular a linguagem de crianças com autismo é importante (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

“Acertar na mosca”, “arroz de festa”, “cabeça nas nuvens” e “banho de gato” são algumas das expressões idiomáticas inseridas na nossa linguagem cotidiana. Mas nem toda a população as entende com clareza. É o caso de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que foram peça-chave para a dissertação de mestrado de Isabela Rodrigues Gibello realizada no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina (FOFITO) da USP.

O desenvolvimento da compreensão de expressões idiomáticas (EI) na linguagem típica é um processo contínuo mais frequente entre os 7 e 11 anos, idade das crianças que são atendidas pelo serviço especializado do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro do Autismo (LIF-DEA), laboratório onde foram realizadas o estudo da fonoaudióloga.

A pesquisa foi desenvolvida a partir de dois grupos pareados por idade e escolaridade, um somente com crianças com TEA (G1) e o outro, com crianças que possuem desenvolvimento típico (G2). Assim, foi aplicado um questionário com dez expressões idiomáticas previamente selecionadas com o objetivo de investigar a compreensão desses termos por ambos os grupos. Porém, as crianças do G1 apresentaram um desempenho inferior. “Comecei fazendo só com as expressões idiomáticas isoladas, foi quando percebi que para os autistas era muito complicado, mas quando você coloca no contexto, eles têm mais capacidade de extrair alguma informação” conta Isabela.

Assim, a segunda etapa do estudo usou contextos junto das EI para que houvesse uma melhor compreensão, como por exemplo, “Minha mãe falou que eu estava com a cabeça nas nuvens hoje” em vez de só utilizar “cabeça nas nuvens”. O G1 demonstrou uma melhora significante, porém, não houve mudança significativa no G2, o que reafirmou a necessidade de pessoas no espectro do autismo terem contextos fornecidos à eles. 

Teoria da Mente

Estudos têm mostrado que o desenvolvimento da compreensão da linguagem figurativa é simultâneo ao desenvolvimento da Teoria da Mente (ToM) habilidade de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. Assim, a fonoaudióloga ainda reforça a importância do grau de desenvolvimento da Teoria da Mente nos resultados obtidos. “Precisamos ter essa capacidade desenvolvida para compreender uma expressão idiomática, porque é muito além do que é literal. Tanto a compreensão das EIs quanto a Teoria da Mente andam juntas”, afirma.

Isabela aponta a importância da exposição de crianças com autismo a estímulos da linguagem: “É importante que os fonoaudiólogos saibam que informação nunca é demais […] Para uma criança, mesmo que autista, aprender a compreender, precisamos estimular. As crianças de desenvolvimento típico tem total capacidade de entender. Então por mais que eles não soubessem o que era, eles conseguiram pelo menos tentar responder e não só ir no óbvio”.

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