Novas pesquisas apontam para futuro promissor da astrobiologia

Titã, lua de Saturno, visto da espaçonave Cassini // Imagem: Nasa/JPL-Caltech/Space Science Institute

A existência de vida em outros planetas é tema recorrente entre cientistas, cineastas e um ou outro grupo de amigos em uma mesa de bar. Nos dois últimos exemplos, no entanto, o assunto costuma atingir camadas fantasiosas, enquanto no primeiro ele é tratado de forma mais realista. É o caso do SBAstróbio, reunião de astrobiologia realizada pela segunda vez este ano, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, e que visa entender a origem da vida na Terra e a possibilidade de sua existência em outros planetas.

“A astrobiologia tem a característica de ser multidisciplinar, envolvendo desde astrônomos à biólogos, e o interesse das pessoas por ela aumentou muito na última década”, afirma o professor do IAG Eduardo Janot Pacheco. Segundo ele, a busca por vida fora da Terra está diretamente ligada ao entendimento de como ela surgiu e evoluiu aqui.

Em cima dessa premissa vários trabalhos estão sendo produzidos no meio acadêmico e o SBAstróbio é responsável por fomentar e discutir alguns deles. É o caso do mestrado da Aline Ramos Ribeiro, Formação e Destruição de Moléculas Complexas na Atmosfera de Titã, que está sendo feito no Observatório de Valongo (UFRJ). Embora sua pesquisa não envolva exatamente vida extraterrestre, se trata de uma busca por moléculas orgânicas, responsáveis por formar a vida em nosso planeta milhões de anos atrás. 

“Primeiro precisamos entender, por que estudar Titã?”, começa Aline em sua palestra. Este corpo celeste, que leva o nome de deuses gregos, é na verdade a maior lua de Saturno e tem algumas similaridades com a Terra, como seu relevo e sua atmosfera densa. Além da existência de compostos orgânicos e lagos, mas estes não são de água e sim de metano em estado líquido. 

De acordo com a mestranda, que desenvolve sua pesquisa através de testes de laboratório utilizando números da base de dados Kida (Kinetic Database for Astrochemistry), a atmosfera de Titã é composta majoritariamente por moléculas do grupo C.H.O.N. Nele estão presentes os principais elementos que compõem os organismos na Terra, carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. “Os dados que encontramos nos permitem concluir que existe uma grande quantidade de moléculas orgânicas nessa atmosfera, e que podemos encontrar outras ainda mais complexas que são base para a vida.”

Tamanhas são as possibilidades apresentadas pelo satélite natural de Saturno que a Nasa decidiu, este ano, enviar um drone para entender melhor suas características. A missão Dragonfly tem lançamento previsto para 2026, e deve sobrevoar Titã em 2034. Seu objetivo principal é investigar a química dos complexos ambientes que o compõem, e sua duração será de aproximadamente dois anos e meio.

O gráfico relaciona temperatura, pressão, pH e salinidade com os limites para vida na Terra, e compara com diferentes lugares do nosso Sistema Solar // Imagem: Frontiers in Microbiology

No entanto, essa não será a primeira sonda a visitar a lua. A Huygens, da missão Cassini, já havia feito isso em 2004, e mesmo não tendo sido tão longa, os intrigantes dados coletados fizeram com que Titã ganhasse uma grande importância no cenário astronômico. Se tornando objeto de estudo de diversas pesquisas.

O problema em estudar esses lugares está exatamente na distância em que nos encontramos deles. Missões espaciais além de demorarem anos para conseguirem resultados, não atingem todas as regiões com potencial. Sendo assim, para melhor entender esses ambientes é necessário traçar um paralelo com a Terra e o que podemos investigar daqui. Nesse sentido a pesquisadora do Instituto de Oceanografia da USP, Amanda Gonçalves Bendia, busca entender a vida de extremófilos na Antártica.

“Não podemos ir até lá, mas conseguimos estudar lugares análogos aqui, mais perto de nós”, afirma Amanda em sua palestra também realizada no SBAstróbio. Segundo ela, o Polo Sul contém lugares com temperaturas muito baixas, como na área central do continente, e outras muito altas, como nos vulcões de seu litoral. Os diferentes ambientes extremos existentes na Antártica fizeram dela o local perfeito para o desenvolvimento da pesquisa, que busca entender quais os limites para a vida como a conhecemos e quais outros lugares no Universo, com características similares, poderiam abrigar esses seres. 

Para o professor Pacheco, isso mostra a importância da astrobiologia e como precisamos desenvolvê-la ainda mais, formando melhores pesquisadores e discutindo mais o tema. “A quantidade de exoplanetas descobertos só na nossa galáxia já é enorme, as possibilidades de que um deles abrigue vida é muito grande. Por isso precisamos promover cada vez mais toda a área da astrobiologia.”

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