Reportagens com realidade virtual são nova aposta do jornalismo

Pesquisadores franceses afirmam que a imersividade gera maior identificação e o público consegue apreender melhor o conteúdo informado

Imagem: Gerd Altmann via Pixabay

Mais do que um tipo de entretenimento, a realidade virtual já é aplicada na área do jornalismo. No último dia 13, os pesquisadores Phillipe Useille e Angelina Toursel, da Université Polytechnique Hauts-de-France, compareceram à Universidade de São Paulo para ministrar uma palestra sobre o uso dessa tecnologia voltada à informação jornalística. Os docentes vieram a convite do grupo de pesquisa Com+, que estuda a comunicação nos meios digitais.

Esse recurso tem ganhado espaço no Brasil por meio de iniciativas como a da startup Árvore, que usa seu estúdio para produzir narrativas imersivas. Recentemente, um de seus curtas, chamado “A Linha”, foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Veneza. Porém, além do entretenimento audiovisual, a área jornalística também se beneficia com essa popularização aqui no Brasil. Um exemplo é a Agência Pública, que foi uma das pioneiras nesse formato com a reportagem Bahia 360°

Para definir o que é o jornalismo imersivo, os pesquisadores mostraram o mini documentário “Clouds Over Sidra”, de Chris Milk e Gabo Amora, que retrata a crise de refugiados no Oriente Médio. Durante o filme, o espectador acompanha a história de uma criança de doze anos no campo de Za’atari, na Jordânia, lar de 84.000 refugiados sírios.

“O efeito 360º permite com que nós nos sintamos presentes, dentro da cena, e por isso conseguimos ter mais empatia pelos personagens e realmente sentir a sua humanidade”, diz Useille. “Dessa forma, conseguimos checar as noções apresentadas para além dos discursos, aparentemente sem uma mediação, e perceber o que está atrelado ao objeto audiovisual em questão”.

Angelina e Philippe discutem como a realidade virtual consegue provocar maior empatia na audiência (Foto: Laura Alegre)

A recepção dessa tecnologia por parte da audiência também é algo diferente, já que o consumo do conteúdo não se limita a assistir a uma imagem por trás de uma tela. De acordo com os estudiosos franceses, a principal diferença é que existe a possibilidade de agir dentro da cena, e não apenas receber as informações passivamente. Por isso, Philippe considera isso uma transição do “storytelling” para o “storyliving” no jornalismo.

Isso é um dos fatores que faz com que esse novo tipo de formato seja atraente para o público. Além de ser algo inovador, a sensação de proximidade com o objeto proporciona um novo tipo de experiência, pois a suposta ausência de mediações facilita a identificação com as personagens da história e até mesmo com o repórter e a equipe responsável.

A experiência também pode ser considerada um pouco paradoxal por conta disso. Philippe explica: “você está lá, imerso naquele ambiente, mas você não consegue ver seu corpo, suas ações são limitadas ao recorte da câmera. É uma sensação única na qual você exercita sua empatia, mas ao mesmo tempo parece um fantasma naquela realidade esférica”.

A mediação, embora pareça não existir dentro da realidade virtual, continua acontecendo de acordo com o que o repórter decide mostrar, os cortes de cenas, a música e até a narração. Angelina explica que “toda essa produção continua sendo orientada pelos princípios jornalísticos básicos, como o de compromisso com a verdade. A diferença é que como as cenas são retratadas com mais intensidade, os objetos são mais tangíveis.” 

A pesquisadora explica que essa noção é consequência da evolução tecnológica e a adaptação do jornalismo para novos formatos. “Na era da pós-verdade, o público acredita e é mais impactado pelo que é passado com emoção, e as reportagens feitas com realidade virtual contribuem para isso”, conclui.

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