Deepfakes demandam regulação de empresas midiáticas

Controle do compartilhamento de vídeos modificados é responsabilidade de plataformas de comunicação no combate a informações falsas

Imagem: Gerd Altmann por Pixabay

Consideradas como a evolução das fake news, as deepfakes são vídeos modificados nos quais a fala e a imagem de uma face humana são sincronizadas em outro corpo por meio de técnicas de inteligência artificial e aprendizado de máquina. A preocupação com a disseminação dessa tecnologia consiste na alta probabilidade de ocorrerem fraudes, prejudicando a credibilidade do conteúdo em formato de vídeo.

A tecnologia é parecida com os efeitos especiais usados na indústria cinematográfica, que possibilita encaixar um rosto em pessoas e até mesmo seres inanimados. Portanto, não é algo exatamente novo, mas que tem causado polêmica por conta de sua popularização, que começou na mídia social Reddit e depois passou a acontecer no Twitter e no WhatsApp.

O professor Luli Radfahrer, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, comenta que as deepfakes podem se tornar uma tendência, pois “à medida que o acesso a essa tecnologia vai se tornando mais fácil, mais gente vai usando, o software vai se tornando mais amigável, então mais conteúdo modificado ficará disponível”. As consequências disso podem ser o aumento da disseminação de informações falsas, mas também uma crise de credibilidade aos conteúdos feitos em vídeo. 

“O ser humano tem a tendência natural de dar muita importância para a visão, tanto que sempre usamos a expressão ‘ver para crer’. Confiamos mais em vídeos do que em fotos e áudios. Essa concepção pode mudar com as deepfakes”, explica o docente. Ele ressalta que essas imagens modificadas servem como reflexão a respeito do quão acostumadas as pessoas estão em acreditar em filmagens.

Os problemas provenientes da aplicação dessas novas técnicas são inerentes ao surgimento de qualquer nova tecnologia, causadas pelo seu rápido desenvolvimento e proliferação do tipo de conteúdo. Luli acredita que logo outros softwares vão surgir com a intenção de identificar vídeos modificados, ou até mesmo os desenvolvedores de formatos de exibição de vídeo indicarão quando houver esse tipo de alteração, servindo de alerta para os consumidores.

As primeiras medidas regulatórias começaram a surgir internacionalmente há pouco tempo, tanto a nível governamental quanto corporativo. A última plataforma a anunciar uma autorregulação nesse sentido foi o Twitter, que recorreu às opiniões dos consumidores para achar a melhor solução para o aumento das deepfakes no site. Os usuários poderão opinar até a próxima quarta, e a decisão final deverá ser anunciada pelo menos 30 dias antes do início da vigência da nova política da rede social.

O pronunciamento da representante oficial do Twitter, Del Harvey, explica que a medida foi tomada porque “tentativas deliberadas de enganar ou confundir as pessoas via uso de mídias manipuladas prejudicam a integridade das conversas em nossa plataforma”. O primeiro órgão governamental a se manifestar sobre o descontrole dessa tecnologia foi o Congresso dos Estados Unidos, com um projeto de lei federal iniciado ainda em 2018, e uma Ação de Responsabilidade lançada em junho de 2019.

Luli vê a autorregulação das empresas de comunicação como algo positivo, mesmo que também exista uma motivação aliada a estratégias de marketing. O mesmo é válido para veículos jornalísticos, como o The New York Times, que também estão se mobilizando em combate às deepfakes. “É necessário que haja um controle feito pelas próprias instituições, pois elas têm responsabilidade pelo que é veiculado em sua plataforma. Ao invés de apontar para o consumidor e considerá-lo ingênuo, as empresas de comunicação devem ter uma regulação precisa para identificar os tipos de materiais que circulam em suas redes, do mesmo jeito que uma indústria farmacêutica faz, por exemplo”, conclui.

A preocupação com o estabelecimento de regras para esse produto se dá pelo fato de que ele é muito usado na indústria pornográfica, colocando rostos de celebridades em gravações desse tipo, por exemplo, e também porque “ele está desregulado e, portanto, sem qualidade”, segundo Radfahrer. Atualmente, o Facebook está trabalhando para criar maneiras de usar a tecnologia de forma positiva com o desenvolvimento de programas de edição de roupas e de rosto, similar a um tipo de “espelho virtual”.

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