Infecção intestinal causa efeito de melhora em metabolismo de animais

Cultura com bactérias causadoras de infecção | Foto: CDC Public Health Image Library PD US HHS CDC / Wikimedia

Depois de o organismo passar por uma infecção no intestino e se recuperar, a composição da microbiota intestinal deixa-o mais resistente a doenças metabólicas. Os estudos realizados em modelos animais infectados com a bactéria Yersinia pseudotuberculosis, causadora de infecção aguda indicavam ocorrência parecida em humanos. Após semanas que o sistema imunológico do animal combateu a bactéria, foram medidas a tolerância a glicose e resistência à insulina.

Deixamos o animal em jejum, depois demos para ele glicose e medimos a glicemia durante um tempo”, explica a professora Denise Morais da Fonseca. Ela é coordenadora do Laboratório de Imunologia das Mucosas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP que realiza os estudos.  “Observamos quanto tempo demora para a glicemia dele baixar. E vimos que, ao contrário do animal que não teve infecção, a glicemia dele baixa mais rápido.”

Os pesquisadores utilizaram o mesmo procedimento feito em humanos para analisar a sensibilidade do organismo à insulina. Após deixar o paciente em jejum, injetaram a insulina e esperaram a glicemia baixar. Quando a pessoa é sensível, a glicemia baixa rapidamente. Quando é resistente, ela não baixa. “ A glicemia desses animais baixa mais rápido ainda do que de um animal que não teve infecção nenhuma. Tendo isso, tentamos entender o que estava acontecendo. Medimos nos diferentes tecidos as respostas à insulina e vimos que a melhor resposta estava no tecido adiposo e no músculo”.

E é justamente o tecido adiposo que está inflamado por conta da presença da bactéria. O grupo constatou que a infecção não prejudicou a resposta do organismo. Pelo contrário, levou a uma melhora. Para entender o porquê, os estudos mediram o peptídeo chamado GIP. Ele é produzido pelos enterócitos, um tipo de célula presente nas camadas superficiais do intestino. 

“Ele cai no sangue e faz com que o tecido adiposo e o músculo fiquem mais sensíveis à insulina. Também faz o pâncreas secretar mais insulina. Por isso, ele fica mais sensível aos carboidratos”, afirma a professora Denise.

Depois dessa constatação, o grupo de pesquisadores realizou um transplante fecal para encontrar possíveis fontes do peptídeo que causou o efeito nos animais. “Infectamos com a Yersinia, esperamos a infecção ir embora e extraímos a microbiota deste camundongo. E demos para outro animal sem microbiota”. Esse segundo modelo sem microbiota ganhou apenas ao conjunto de microrganismos do primeiro camundongo sem nada de infecção, pois ele já havia se recuperado. “Só com a microbiota, tinha os mesmos efeitos: de melhora na resposta da glicose, melhora na produção desse GIP e melhora na produção de insulina”.

Analisando a composição da microbiota encontraram um grupo de bactérias chamadas proteobactérias. Nele, estava a sutterella, responsável pelo mesmo efeito de resposta e sensibilidade à glicemia e à insulina. “Ou seja, achamos que a infecção muda um tipo de bactéria na microbiota que consegue melhorar a resposta na insulina”, conclui a coordenadora.

Microbiota e a condição de má alimentação

As pesquisas tentaram simular uma condição humana com dietas ricas em carboidratos, mas pouco lipídeo e proteína, o que é comum em países onde se tem mais infecções do tipo. Segundo a professora do laboratório, os animais que não passaram pelo processo de inflamação e começaram esta dieta, cresceram e se desenvolveram em menor quantidade.

“Mas se o animal teve a infecção, cresce normalmente, como se tivesse comendo a dieta normal. Sugerindo que isso favorece o animal e dá para ele uma vantagem metabólica”. Em contrapartida, os mesmos camundongos submetidos a dieta rica em lipídio com carboidratos na composição tiveram uma outra consequência: ele engorda de maneira exagerada, chegando ao quadro de obesidade. Mas ainda não desenvolve doenças metabólicas.

Ao mesmo tempo que apresenta, aparentemente, uma vantagem metabólica ao organismo que passou pela infecção, existem outras perguntas a serem respondidas pelas pesquisas do laboratório. “Ainda tem uma questão aberta sobre quais outras bactérias ali estão interferindo na microbiota. E o mais interessante pensando na obesidade, as perguntas são as seguintes: será que isso aumenta o risco de doença cardiovascular? Será que se tirar o carboidrato da dieta, o que vai acontecer com esse indivíduo? Se dermos outro tipo de dieta, ele vai conseguir metabolizar também?”

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