Assobios mostram presença de baleias e golfinhos no litoral paulista

Pesquisadores precisaram desenvolver metodologia para aplicação de hidrofones

Orca. Foto de Marcos C.O. Santos

Estudo visa captar e identificar os assobios (sinais de comunicação) entre baleias e golfinhos que habitam ou que passam pelo litoral de São Paulo, o que ajuda a compreender o comportamento dos animais, permitindo que órgãos de preservação tomem medidas mais eficientes na proteção de áreas e espécies.

Em sua tese de doutorado, o pesquisador Diogo Barcellos, do Instituto Oceanográfico, apresentou os dados da primeira etapa de sua pesquisa, em que foi capaz de verificar a presença e registrar o padrão dos sinais sonoros de cinco espécies de cetáceos (golfinhos e baleias), a partir de dados coletados em dois pontos de medição, um no canal de São Sebastião e outro na costa da ilha Anchieta.

Para esta identificação, Diogo contou com a ajuda de um aparelho especial, o hidrofone, equipamento que capta sinais sonoros em frequências superiores às que o ouvido humano assimila.

Desafios e experiências criam modelo de ação

Um obstáculo para o uso do hidrofone foi a necessidade de desenvolver uma metodologia de aplicação, visto que o equipamento precisa ficar submerso e possui uma memória limitada para o registro dos sinais captados.

Para instalar, Diogo e seus colegas de pesquisa tiveram que fixar o equipamento em uma corda guia, que fica presa ao fundo do mar por um lastro, ou seja, um objeto pesado que mantém o sistema fixo. Na outra extremidade da corda, utiliza-se uma boia que garante a permanência do hidrofone na posição vertical.

Hidrofone. Foto de Alucia Productions

Para coletar os dados registrados na memória do aparelho, os pesquisadores precisam mergulhar uma vez por mês, desmontar o sistema dos suportes, levá-lo a superfície, extrair os dados com um computador, limpar a memória e voltar ao fundo do mar para montar o equipamento novamente.

Com o enorme número de dados – são centenas de horas de gravação – Diogo precisou elaborar estratégias para gravar o áudio do fundo do mar em horários específicos do dia, a intervalos regulares, limitando o volume dos dados e aumentando a periodicidade das coletas.

Decifrando os sinais captados

Uma vez que está com os dados em mãos, a próxima etapa é fazer o pareamento dos sons captados com os registros das cinco espécies, cujas formas de ondas sonoras já foram catalogadas por Diogo: “orca, boto cinza, golfinho nariz de garrafa, golfinho rotador e golfinho pintado do atlântico”.

O procedimento não é tão fácil quanto parece, e o pesquisador precisou usar softwares para apoiá-lo na tarefa. O que mais se ajustou ao volume de dados e características foi um aplicativo de machine learning, em que Diogo inseriu os “sinais de referência, os sinais coletados e mais um conjunto de variáveis que precisaram de tratamento matemático e estatístico”, para só então obter as respostas.

967 assobios de cinco espécies de delfinídeos. Imagem de Diogo Barcellos

Em seguida, Diogo verifica as datas e horários das ocorrências em que os sinais são identificados e cruza com outros dados, que lhe permitem compreender melhor o comportamento das espécies na região analisada.

“Um resultado interessante na pesquisa foi que a maioria das detecções dos cetáceos ocorreram a noite, períodos em que o homem não está trabalhando”.

Preservação eficiente e contribuições à ciência

Diogo destaca que a grande contribuição que sua pesquisa traz à sociedade e à vida dos animais marinhos é a possibilidade de apoiar a elaboração de planos de conservação ambiental mais eficientes. “Os resultados permitem entender em quais épocas os animais estão mais presentes na costa do litoral paulista, qual seu comportamento e hábitos”, afirma o pesquisador.

Tráfego de embarcações no litoral de São paulo. Imagem de marinetraffic.com

Além disso, a metodologia da pesquisa, aliada aos dados coletados, permite que outros pesquisadores contribuam com dados similares, ajudando na criação de um banco de dados dos ‘idiomas’ de cada espécie de cetáceo (baleias e golfinhos). 

De acordo com Diogo, “no Brasil foram reportadas 47 espécies de cetáceos”, sendo que “em São Paulo foram aproximadamente 34, algumas consideradas ocorrências ocasionais ou raras”, o que mostra que mesmo com a existência de importantes e movimentados portos, como os de Santos e São Sebastião, a vida marinha persiste na região.

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