Isolamento social vai aumentar número de obesos, diabéticos e hipertensos

Pesquisa busca dimensionar o impacto da redução das atividades físicas e da mudança alimentar na saúde de paulistanos durante a pandemia

Foto: Alex Easy/Unsplash

A disseminação do vírus Sars-Cov-2, direta e indiretamente, desencadeou uma série de mudanças comportamentais na população. Filiada à analise das alterações comportamentais, a pesquisa “Estudo sobre comportamentos de atividades física e estado nutricional antes, durante e após a pandemia” pretende retratar mudanças relevantes em hábitos de moradores da capital paulista decorrentes do isolamento social que podem afetar a qualidade da sua saúde. Há grande preocupação com o aumento do número de obesos, diabéticos e hipertensos. Quem lidera a pesquisa é o professor Alex Antônio Florindo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. 

Graduado em Educação Física e com doutoramento em Saúde Púbica com foco em Epidemiologia, Florindo tem se dedicado ao estudo dos fatores condicionantes da pratica de atividade física e a relação dessa com a saúde da população. A qualidade dos indicadores de saúde de cada pessoa é subordinada à pratica de atividades físicas; essa, por sua vez, está associada às características do ambiente construído. “O DNA da saude atual é o CEP das pessoas”, afirma Florindo. “É aonde você mora que vai determinar a sua saúde.”

Durante o pós-doutorado, realizado entre 2016 e 2017, Florindo cruzou dados sobre a saúde e a pratica de atividades físicas de moradores da capital com informações relacionadas a existência de parques, ciclovias, estabelecimentos comerciais e rede de transportes nas proximidades das suas residências e dos seus locais de trabalho. Uma das conclusões do trabalho informa que a probabilidade de uma pessoa realizar caminhadas no tempo livre eleva-se quando existem pelo menos dois destinos de lazer como parques ou praças em comparação com a inexistência desses espaços.

Inquérito de Saúde de São Paulo

Os indicadores sobre a saúde e sobre a pratica de atividade física utilizados pelo pesquisador em seu estudo, fazem parte do 3º Inquérito de Saúde de Base Populacional da cidade de São Paulo (ISA-2015) realizado entre setembro de 2014 e dezembro de 2015 por meio de uma parceria entre as Secretarias da Saúde do estado e do município de São Paulo. Trata-se de um estudo de coorte transversal que investiga diversas questões de saúde; a amostragem compreende 4.053 pessoas distribuídas em todas as regiões da cidade.

Os trabalhos feitos no pós-doutorado deram origem a um novo projeto liderado por Florindo. A pesquisa “Ambiente construído, atividade física e estado nutricional em adultos: um estudo longitudinal”, iniciada em 2019, tem duração de 5 anos. Conta com o apoio financeiro da Fapesp na linha de auxílio à pesquisa do tipo temático. Por meio de aferições periódicas, a pesquisa pretende traçar um panorama da evolução do comportamento de moradores da capital paulista em relação a pratica de atividades físicas. A linha de base do estudo, bem como o grupo de munícipes a ser acompanhado, estão contidos no 3º Inquérito de Saúde da cidade, já mencionado nesse texto.

Em abril, a Fapesp lançou um edital convidando pesquisadores que já tinham projetos aprovados a redirecionar parte dos esforços da pesquisa original à compreensão do vírus SARS-Cov-2. O redirecionamento deveria ser detalhado em uma nova proposta a ser analisada pela Fapesp. Florindo conta que readequou seu projeto original de acordo com a iniciativa da Fapesp. “Adequamos nossos estudos de modo a considerar os efeitos da pandemia.”

Na proposta adaptada, o grupo de pesquisadores liderado por Florindo vai aproveitar o conhecimento já acumulado, utilizando a mesma amostra de pessoas interrogadas no ISA-2015; portanto, as mesmas pessoas que o pesquisador analisou em seu pós-doutorado e que são objeto de estudo da pesquisa temática original iniciada em 2019. Segundo Florindo: “Nós já temos uma avaliação das pessoas antes da pandemia, então nós incrementamos esse projeto querendo estudar melhor como esse período vai afetar esses comportamentos dentro de alguns indicadores, alguns desfechos em saúde. A gente quer saber comparado com antes se as pessoas reduziram a atividade física, se aumentou o comportamento sedentário, a obesidade e os transtornos mentais.”

O estudo pretende coletar dados de 3.200 pessoas, por telefone, com questionamentos sobre saúde, qualidade do sono, pratica de atividades físicas, problemas mentais, etc. “É muito urgente e importante fazer a coleta de dados esse ano para não perder esse momento, para que seja registrado esse momento como uma memória”, enfatiza Florindo.

Exercícios físicos deveriam ser incentivados

O professor da EACH não tem boas perspectivas do futuro. “As pesquisas que estando sendo divulgadas, já mostram que as pessoas estão parando de fazer exercícios”. Florindo continua: “O comportamento sedentário aumentou. A nossa preocupação é que os comportamentos mudaram para pior e voltar ao estágio anterior não será fácil”. Apesar da importância na ênfase nas medidas de isolamento, os veículos de comunicação e os governos deveriam estimular a continuidade da exercitação física respeitando as limitações impostas pela pandemia, ressalta o pesquisador.

“Nesse tempo de quarentena, muita coisa que havia avançado retrocederá. Dados epidemiológicos mostravam um aumento da atividade física no tempo de lazer, de 2005 para cá. O pós-pandemia vai trazer mais pobreza, mais desigualdade, quebra de comportamento; infelizmente, teremos mais problemas. As perspectivas não são boas. Temos que trabalhar oferecendo mais oportunidades e incentivo às pessoas a continuar se exercitando.”

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