[2017] ATÉ A FESTA DO ANO QUE VEM

 

Texto e fotos por Sofia Calabria

 

A Festa do Livro deste ano já passou, mas convidamos quem não pôde comparecer a fazer um passeio virtual pelo evento. Quem sabe você possa ir da próxima vez!

Andar pela Festa é uma experiência diferente para quem anda com uma câmera na mão. Com a missão de registrar livros e seus leitores, convidados e anfitriões, observar a cena geral é interessante para quem, como eu, está não só buscando livros mas também os olhares e interações que eles suscitam.

 

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Como sempre, o evento estava lotado, e me locomover, achando brechas entre os visitantes, foi uma tarefa e tanto. Era difícil competir com todos aqueles exemplares esperando que alguém os levasse para casa. Alguns olhares curiosos pareciam perguntar: o que essa moça está fazendo aqui e para que são essas fotos? Ao que eu, por vezes, quando percebia a dúvida, respondia com descontração: são para a Festa! Outros, de tão compenetrados, sequer notaram minha presença, o que me ajudou a registrar com naturalidade seu interesse pelas obras e as interações entre amigos, casais, livreiros e público, além da singular relação entre uma pessoa – sozinha, mas não solitária – e seu possível próximo livro.

Andando pela Festa me deparei com um estande em que um garotinho de no máximo 5 anos folheava, bastante interessado, um livrinho colorido, cheio de desenhos. O pai, ao lado, o observava com o irmão no colo. A livreira conversava com o garotinho sobre a história, como se ele fosse (e era!) um leitor como qualquer outro adulto ali. Depois que foram embora, eu me aproximei para falar com a vendedora. A editora era a Carochinha, dedicada a livros infantis. “Há todo um cuidado, um carinho especial para fazermos livros para esse público. É muito bom esse contato direto, ver a satisfação da criança quando você começa a contar a história que tem no livro, e ela vai interagindo”, conta Stella Romão, representante da editora na Festa.

 

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Perguntei a ela como as crianças se comportam, se fazem perguntas, se já chegam conversando. “Elas são mais quietinhas. Elas olham e então a gente se aproxima um pouco mais. Aí elas vão se soltando e perguntam mais coisas.”

 

– E no final, quem escolhe o livro? Os pais ou as crianças?
– No final, quem decide é a criança! (risos)

 

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Um pouco mais à frente vi uma moça folheando um chamativo livro de quadrinhos, com capa dura. Ao redor, outras tantas cores que saltavam aos olhos. Nesse mesmo estande, da editora Peirópolis, vi também algumas crianças curiosas. “São todas leitoras. É muito incrível! Elas chegam e vão exatamente para aquilo que chama a sua atenção a partir do que já gostam de ler”, diz Maria Conceição Azevedo, gerente comercial da editora, cujo catálogo também é voltado à educação e ao terceiro setor. Pergunto sobre a relação com o público no evento.

“É o melhor lugar. Escolas vêm nos visitar, mesmo aquelas que já são parceiras durante o ano. Recebo vários recadinhos de quem passou e mandou um beijo pra mim. Tem uma família cujas crianças eu vi crescer. Elas vinham com os pais com 3, 4 anos. Hoje estão adultas e eles vêm todos os anos. Aqui virou um ponto de encontro no final do ano para fazermos esse contato direto, nesse momento que é uma festa, e essa festa é o livro.”

Enquanto caminhava pelas três grandes tendas, tentava ver um livro ou outro, mas cenas que atraíam a minha atenção que não pude agir como o restante do público. Procurava mais um quadro para fotografar quando vi dois jovens conversando, muito animados. Falavam em inglês. Aproximei-me para conversar com eles e descobri que a garota, Victória Letícia, estuda geografia na USP e é brasileira. Com ela estava seu amigo intercambista Kearen Smitt, da Inglaterra, estudante de português e japonês.

 

– Posso perguntar tudo em português, então? – brinco.
– Nããão, me sinto mais seguro em inglês – ele responde, meio incerto.

 

Kearen nunca tinha visto um evento como esse na Inglaterra. “Há muitas livrarias, muitas franquias, mas nada como isso.” Ele me confessou que lá as pessoas acabam comprando muito pela internet. A princípio, ele achava que a Festa consistia em pessoas vendendo seus próprios livros, e ficou surpreso quando descobriu que cada estande era de uma editora diferente. Em seguida, lamentou não ter encontrado Harry Potter. Já Victória estava em busca de um livro sobre a militante americana Angela Davis.

 

– Angela Davis?! – diz Kearen, com entusiasmo.
– Sim! Tem um livro sobre ela por aqui e eu vou comprar.

 

Despedi-me e eles continuaram sua conversa agitada enquanto eu seguia à procura de mais personagens.

 

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Entre uma fotografia e outra avistei no estande à minha frente um homem que já havia notado em vários outros momentos, sempre conversando descontraidamente com os livreiros. Ele acabara de adquirir uma obra. Olhei para o chão e vi uma mala com rodinhas. Ele se abaixou para guardar seu mais novo exemplar. A mala estava lotada. Ele foi perspicaz e se preparou para poder sair de lá com uma biblioteca sem que tivesse ter de lidar com dor nas costas no dia seguinte. Enquanto fechava sua mala, me aproximei.

 

– Oi, tudo bem? Estou escrevendo sobre a Festa. Você pode conversar rapidinho comigo? – ele olha para o relógio. São 20h50. Faltam dez minutos para o evento terminar.
– Putz, já tá acabando aqui e eu ainda tenho um monte de livros pra procurar. Infelizmente não vai dar. Se fosse mais cedo…

 

Ele realmente tinha uma missão ao visitar a Festa. Saí meio frustrada, mas não queria atrapalhar. Não deixou de ser um diálogo interessante. Deixei-o ir, pensando: quem sabe na próxima…

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