O mandato de máscaras na Universidade de São Paulo (USP) é um fracasso previsível

Na mesma semana em que foi iniciado o ano letivo na USP (14/03/22), o governador de São Paulo revogou o mandato de máscaras na maioria dos espaços públicos (em 17/03/22). Por outro lado, a USP optou por manter a obrigação de máscaras em todos os seus campi, com a justificativa de que a universidade tem “características de transporte público”. No início do semestre, os estudantes receberam respiradores N95/P2 e foram proibidos de entrar em espaços fechados sem máscaras (N95/P2 ou máscaras cirúrgicas). Assim, além da máscara onipresente, esta política resultou em um grande número de usuários portando respiradores N95/P2.
Vamos olhar para os números para ver como a USP está se saindo com a sua política de mascaramento forçado:
O município de São Paulo, que concentra aproximadamente 70% da comunidade USP, vem observando um ligeiro aumento nos casos de COVID desde meados de março de 2022 (semana epidemiológica no. 11), quando o ano letivo na USP teve início. No acumulado das semanas 11-27 o município de São Paulo (11.869.660 habitantes) teve um total de 33.902 casos, ou 285 casos de COVID para cada 100.000 habitantes. Por outro lado, a USP (aprox. 116.000 indivíduos) teve um aumento considerável no número de casos desde o início do ano letivo (vide gráfico), tendo acumulado 1.868 casos de COVID, ou 1.610 por 100.000 indivíduos entre as semanas 11 e 27. A taxa de casos de COVID na USP é, portanto, 5,6 vezes maior do que no município de São Paulo. Lembremos que respiradores N95/P2 não foram distribuídos para a população de São Paulo e que, fora da USP, máscaras só são obrigatórias no transporte público e em ambientes clínicos.
Os dados da USP foram retirados do boletim epidemiológico USP-COVID de 27 de julho de 2022. Os números apresentados referem-se às licenças médicas resultantes de ‘diagnóstico ou provável COVID’. Vamos ser generosos com os dados e admitir que apenas 50% dos casos registrados pela USP são de COVID. Ainda assim, a universidade teria o dobro dos casos/100.000 que o município de São Paulo, mesmo que apenas metade dos casos tenha sido causada pela COVID.

O mesmo boletim epidemiológico traz também os dados “Total de notificações” que corresponde às “Notificações de covid-19/síndrome gripal em todos os campi da USP”. Neste caso o acumulado de casos de março a junho de 2022 foi de 2186 notificações. Supondo que apenas metade das notificações sejam de COVID (=1093), ainda assim, a taxa de casos de COVID na USP seria de 942/100.000, ou seja, 3,3 vezes maior que no município de São Paulo.
Uma possível alegação seria a de que os estudantes e funcionários da USP são mais propensos a testar e notificar os casos de COVID. Entretanto, os dados do município abrangem todas as faixas etárias, incluindo crianças e idosos, que são mais suscetíveis a doenças respiratórias e que, portanto, visitam clínicas médicas e hospitais com maior frequência. Em contrapartida, a comunidade USP consiste apenas de adultos e um número muito pequeno de pessoas idosas (> 65 anos). É, portanto, improvável que haja maior notificação de casos na USP do que na população paulistana em geral.
Em conclusão, a taxa de casos de COVID na USP é mais alta do que no município de São Paulo como um todo, apesar do mandato de máscaras e da alta proporção de usuários de respiradores N95/P2.

Casos COVID município de São Paulo vs. Licenças médicas USP (diagnóstico/provável COVID)

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